terça-feira, 16 de novembro de 2010

Flamengo


No lançamento da pedra funtamental do museu do Flamengo, um retrato da crise rubro-negra

Cesar Cielo, a estrela do lançamento da pedra fundamental do Museu do Flamengo, não apareceu – por problemas no voo. Zico, maior ídolo da história do clube, limitou-se a gravar um vídeo para ser exibido no evento. Andrade, técnico da equipe campeã brasileira de 2009, sequer foi citado. Ausências de peso, no momento em que o maior time do Brasil enfrenta risco de rebaixamento no Brasileirão, em um ano para ser esquecido do calendário, transformaram a festa na futura sede do museu rubro-negro em mais um retrato da crise na Gávea.
A cerimônia, realizada no dia seguinte ao aniversário de 115 anos do rubro-negro, ocorreu, na verdade, um dia após a data inicialmente prevista para a inauguração. O atraso, no entanto, torna-se pequeno diante do desafio que o Flamengo tem nas próximas semanas. A três rodadas do fim do Campeonato Brasileiro, o atual campeão corre atrás de pontos para se distanciar da zona de rebaixamento. Na 14ª posição, com 40 pontos (apenas três a mais do que o primeiro do ‘Z-4’), o Flamengo precisa desesperadamente de uma vitória no próximo sábado, diante do Guarani, no Engenhão, para afastar o perigo de comemorar 100 anos do futebol no clube, em 2011, disputando a Segunda Divisão.
A presidente Patrícia Amorim reivindicou, pela primeira vez, a responsabilidade sobre a delicada situação. “Quero deixar bem claro que, como presidente do Flamengo, eu assumo todas as responsabilidades. Sobretudo de resultados que possam não ser condizentes com o nosso sonho. Não tenho medo de enfrentar isso”, afirmou a dirigente, que se diz otimista em relação ao futuro do Flamengo na competição: “Em nenhuma, das 35 rodadas, o Flamengo esteve na zona de rebaixamento. Mas existem duas formas de olhar a vida: a otimista e a pessimista. Procuro pensar sempre que o Flamengo vai vencer. E trabalhamos para isso. Agora, futebol, como se sabe, é o imponderável. Pode acontecer ou não”.
Alexandre Vidal/Divulgação
O espaço onde será montado o museu: previsão de cerca de 9 mil peças selecionadas, entre uniformes, documentos e troféus
O espaço onde será montado o museu: previsão de 9 mil peças
Coube ao ex-meia Adílio a missão de representar a geração campeã da Libertadores e do Mundial de 1981 - definida pela presidente Patrícia Amorim como “o principal capítulo da história do clube”. A diretoria tentou minimizar as ausências dos ídolos, argumentando que a maioria deles participou, com depoimentos exibidos em um vídeo institucional. Na tela, o maior ídolo e até pouco tempo coordenador de futebol do clube, Zico, dividiu espaço com outros atletas que fizeram história na Gávea como Júnior, Bebeto, Romário e Zagallo, no futebol; Oscar Schmidt, no basquete; Bernard, Bernardinho, Virna e Leila, no vôlei; e a treinadora de ginástica Georgette Vidor, além da própria presidente, Patrícia Amorim, representando a natação.

A presidente atribuiu a ausência de Zico a uma viagem e garantiu que não há boicote do craque. “Ele (Zico) nunca se negou a gravar nenhum depoimento. Até porque ele é o maior ídolo (do clube) e é o meu maior ídolo. Então, ele pode não estar presente de corpo, mas está presente em nossos corações”, disse.
Alexandre Vidal/Divulgação
Atletas no lançamento do museu: destaque para a ginástica olímpica
Atletas no lançamento do museu

Do atual elenco, o único presente era o técnico Vanderlei Luxemburgo. Depois de chegar ao clube com superpoderes no Departamento de Futebol e com contrato até o fim do mandato de Patrícia, ele sucede Zico como detentor das esperanças rubro-negras de que o time finalmente modernize a gestão do futebol. “Essa já é a minha terceira passagem como técnico. Também fui jogador. Faço parte dessa história. Agora, quero contribuir para o Flamengo se estruturar, se tornar um clube moderno. Como profissional e flamenguista, acho que voltei no momento certo”, afirmou Luxemburgo, que conquistou pouco no clube: um Campeonato Carioca como técnico (1991) e três na condição de jogador reserva (1972, 74 e 78).

Sem a presença da maioria dos ídolos do futebol e da maior contratação recente do clube – Cesar Cielo – coube à ginástica olímpica o maior número de estrelas – os irmãos Daniele e Diego Hypólito e Jade Barbosa.
O evento também foi marcado pela criação de uma 'cápsula do tempo', na qual foram guardados jornais, revistas e DVDs com mattérias de telejornais - todos com notícias do dia 15 de novembro de 2010 - e cartas de atletas, dirigentes e blogueiros. A caixa será reaberta daqui a 10 anos.

O museu – Orçado em 8 milhões de reais, o museu contará com 2.500 metros quadrados, divididos em dois andares na sede do clube, diante da lagoa Rodrigo de Freitas. O dinheiro para tirar o projeto do papel vem integralmente da patrocinadora Olympikus, através do adiantamento de royalties. 

Segundo um dos curadores, Marcos Eduardo Neves, o acervo será de cerca de 9 mil peças – incluindo os principais troféus, uniformes, reportagens, fotos e vídeos sobre o Flamengo. “O primeiro andar será informativo. Já o segundo será mais ‘pop’, mostrando como o Flamengo dita modas, incluindo a Música Popular Brasileira. Também teremos games interativos. Os visitantes poderão escalar o time dos sonhos, sentados num banco de reservas”, explica Neves.

Três curadores e mais três pesquisadores trabalham há cerca de um ano, catalogando e selecionando os itens que vão contar a história do clube de maior torcida do país. Além do acervo do próprio Flamengo e de doações de torcedores, o museu conta com uma verba - bastante limitada – para adquirir registros dessa história. “Queremos, por exemplo, imagens do Carioca de 1963. Foi o jogo de maior público do Flamengo - e talvez do futebol mundial. Havia 177 mil pessoas no Maracanã”, lembra o jornalista Roberto Assaf, também curador do museu.

Zico já colocou à disposição dos pesquisadores o acervo pessoal que mantém em sua própria residência. “Com certeza, ele deve ter muita coisa. Saber que o maior ídolo do clube abriu a casa para a gente é fantástico”, comemora Neves.

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